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Empresa & Paraiso

Empresa & Paraiso

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De tanto ouvir falar de um “Caminho Suave” para o êxito nos negócios, outro dia me vi na necessidade de consultar o dicionário Aurélio e conferir o significado da palavra “empreender”. Ali encontrei, entre outros termos, o seguinte: “Deliberar-se a praticar empresa laboriosa e difícil”.

 Então por que há quem se esforce tanto para passar a ideia de que uma determinada empresa se constitui em ambiente permanentemente tranquilo e descontraído?! Algo próximo de um paraíso terrestre, isento de preocupações, em que a supervisão deixou de ser um fardo, pois cada um contribui com base na sua interpretação das metas e diretrizes.

Seu objetivo seria provocar a inveja nos seus concorrentes ou induzi-los ao erro, tal qual os moleques mais velhos de antigamente (daquele tempo quando nem se ouvia falar de “politicamente correto”) faziam, pulando as grandes poças d’água e incentivando os menores a imitá-los só para rir quando saíssem do outro lado com seus pés e roupas encharcados?

Ou (quem sabe?) alguns acreditem que, tratando o assunto dessa maneira, atraiam bons fluídos para suas organizações; ou, no mínimo, profissionais com características excepcionais, isto é, capazes de manter todas as ameaças longe de seus locais de trabalho?

Trabalho. Eis outra palavra cuja origem merece ser lembrada: refere-se a um instrumento de suplício, tortura e morte; utilizado durante o período medieval, denominado “tripalium”. Agora, no entanto, há quem queira vincular essa atividade somente ao prazer. Ao mesmo tempo em que insistem em proclamar métodos por meio dos quais se aprende brincando, enquanto (todo mundo sabe) brincando se aprende somente a brincar.

Nas cerca de 50 empresas em que tenho atuado durante os últimos 30 anos, os métodos somente foram úteis para os profissionais desenvolverem suas competências e realizarem suas tarefas quando havia uma dose considerável de seriedade da parte destes, empenhados em sustentar um estilo de vida vinculado à competição permanente. O que significa: estar sujeito a vitórias e derrotas, apesar de ninguém saber ao certo como irá se sair diante de umas e de outras.

Nessas, as atividades ordinárias dominavam o cenário e, por meio da repetição, os dedicados conquistavam a excelência, fazendo o melhor uso possível dos recursos disponíveis para integrar suas organizações às cadeias de suprimento da forma mais saudável possível, ou seja, com o mínimo de perdas e atritos.

Isto não lhes garantia o conforto da ausência de problemas e conflitos. Ao contrário, alertava para o fato de o planejamento fazer parte de seu cotidiano. E onde há planejamento, há problemas, pois nem tudo ocorre conforme planejado. Se não fosse assim, deveria se chamar “adivinhação”!

Os conflitos, por outro lado, podem ser consequência das diferentes visões diante dos problemas e das oportunidades. Não significa que uns são “mocinhos” enquanto os outros são “bandidos”. Todos são humanos apegados a suas crenças e expectativas, alguns reagem com veemência quando contrariados. Resta saber até que ponto isso pode ajudar ou atrapalhar a equipe a alcançar seus objetivos. Só não se pode prosperar ,negando a existência dos conflitos e dos problemas. Antes é necessário reconhecê- los e tratar das suas causas.

É claro: sempre constará para o (a) leitor (a) a alternativa de imaginar que esta forma de ver decorre de minha atuação estar vinculada a estes fatores (problemas e conflitos) na busca de superação por meio do consenso e da solução, atividades próprias dos consultores de desenvolvimento gerencial e organizacional.

Mas eu gostaria de deixar a seguinte mensagem: as empresas não se constituem nem em infernos nem em paraísos terrestres. Nestas, as alegrias e tristezas existem nas mesmas proporções que em outros lugares. No entanto, se os profissionais ficarem esperando que as soluções caiam dos céus, a empresa não terá a mínima chance de sobrevivência.

É claro que algumas empresas conseguem, durante determinados períodos de tempo, lucros excepcionais e podem proporcionar regalias e confortos para seus colaboradores. Já vi, por exemplo, empresas em que há áreas dedicadas à socialização e ao lazer, que podem ser frequentadas de acordo com a conveniência de cada um. Em outras, os cardápios dos refeitórios fazem inveja para os cardápios de muitos restaurantes abertos ao público. Em outras ainda, os cursos oferecidos aos empregados em geral são de qualidade excepcional, incluindo estágios em diferentes plantas no Brasil e no exterior. E essa retribuição é louvável.

Por outro lado, já testemunhei situações diferentes em empresas lucrativas, como naquelas que vivem situação crítica. Um exemplo de mesquinharia: em uma empresa, o leite servido pela manhã aos seus colaboradores vinha de uma das fazendas do grupo. A este era adicionada uma proporção significativa de água como forma de reduzir custos. Um exemplo de descaso: uma nova ala de uma fábrica foi inaugurada para abrigar cerca de 40 operadores de máquinas, havendo somente dois banheiros femininos e dois masculinos para atender a todos. Isto sem mencionar os diversos casos em que os salários não eram pagos em dia.

Nenhuma delas, no entanto, qualifica- se para servir de modelo para todos os empresários e executivos. Ou melhor: a visão de modelo pode gerar frustração para muitos, principalmente em um País onde a infraestrutura não corresponde ao volume de impostos que os governos arrecadam, enredando a nação em condição não atrativa para empresas voltadas para pesquisa e desenvolvimento porque não dispõem, dentre outras coisas, de logística e mão de obra qualificada.

Preparar-se para a disputa de vagas em uma dessas empresas lucrativas é uma opção, mas a conquista não depende só de um modelo de corte de cabelo nem do domínio de certo dialetoempresarial, às vezes, nem se limita a competências, pois pode depender de indicações.

É recomendável lembrar sempre que a conquista de uma oportunidade de emprego não é um fim, é um meio para cada um reconhecer seus talentos e limitações; conhecendo, ao mesmo tempo, quão mesquinho ou generoso o humano pode ser, apesar de alguns se considerarem angelicais. Afinal, empresas são muitas, mas a vida de cada um é única. Seu sentido depende, em grande parte, das decisões que o indivíduo toma diante da realidade e não dos modelos assumidos como ideais.

Algumas empresas passarão de uma geração para outra. Outras não conseguirão sobreviver a alguns anos. O tempo de cada pessoa, no entanto, é precioso demais para ser desperdiçado buscando aquilo que não existe. Ou pior, achandose inferior aos demais tomando como base somente aquilo que dizem fazer.

Existem métodos capazes de facilitar o aprendizado e a superação de problemas e conflitos. Mas não existem soluções prontas e acabadas. As dificuldades são vencidas quando alguém vê sentido naquilo que faz com paciência, persistência e disciplina. Não durante um dia, mas durante toda uma carreira.

 

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